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10 Discos de 2011

Charles Antunes Leite

Ocupei meu tempo livre na primeira semana do ano ouvindo e relembrando os álbuns lançados em 2011. Vários discos, apesar de suas qualidades, acabaram por não figurar entre os 10 que mais me agradaram: Sepultura (Kairos), Rosa Passos (É Luxo Só),  The Cults (The Cults), My Morning Jacket (Circuital), Bon Iver (Bom Iver), The Vacines (What Did You Expect From The Vaccines?), Mônica Salmaso (Alma Lírica), Old 97s (Grand Theatre Vol. 2), Peter Bjorn And John (Gimme Some), entre outros. Abaixo os “eleitos”:

Anna Calvi- Anna Calvi

O álbum de estreia da guitarrista Anna Calvi é uma surpresa em meio a enxurrada de cantoras de RB e o pastiche do pop atual. A solidez das músicas tocadas pela jovem Anna revela lampejos técnicos de Ry Cooder – remete às paisagens desertas e solitárias. Ela deve ter ouvido muito Django Reinhardt.
Anna Calvi ganha a audiência já na primeira faixa Rider to the Sea que vem num crescendo acompanhado de coro nos moldes de Ennio Morricone.
No More Words – não é necessário nem mesmo que ela cante, o instrumental por si é suficiente. As nuances vocais acompanham a mudança de andamentos, enquanto Desire é o rock afiado como o desejo e a voz entre Siouxsie e Joanette Napolitano. O baixo e a bateria impoem dureza roqueira como em  I’ll Be Your Man, acordes hipnóticos, ríspidos e modulação vocal carregada de vibração. Ela ainda pode ser colocada ao lado de Patti Smith e PJ Harvey. Poderiam dizer que ela é feia, mas não – Anna Calvi possui porte de modelo.

Criolo – Nó na Orelha

Nó na Orelha apresenta evolução em relação à Ainda Há Tempo (2006) quando assinava Criolo Doido. Ele abre o leque de referências para ilustrar contundentes  crônicas musicais.
Bogotá é latin jazz com carimbó e forte linha de baixo; A já conhecida Não Existe Amor em SP, um lamento com percussão tímida acompanhada de baixo e alguns acordes esparsos de órgão e até violino.
Subirusdoistiozin, Grajauex e Sucrilhos – nas duas últimas ele faz trocadilhos com o mercado de consumo – são as três faixas em que pode ser rotulado como rap tradicional.
Freguês da Meia-Noite se desenvolve no ritmo do bolero com guitarra caribenha, andamento e letra no estilo Odair José.
Criolo parte do rap, mas não pode ser considerado como tal. Categorizar seria restringir a força e a versatilidade da música que utiliza para promover o discurso. Nó na Orelha mistura na receita rap, afro-samba, soul, reggae, mpb, blues e toques de latinidad.
Criolo levou para casa três prêmios do VMB 2011, realizado pela MTV, inclusive melhor disco. Nó na Orelha sintetiza a proposta de dar um “nó na orelha” da audiência acostumada a rótulos – o indefinível só comporta a definição de música, e da boa.

Florence and the Machine – Ceremonials

Florence Welch adquiriu experiência cantando desde criança. Ela mistura no liquidificador de influências o canto lírico, pop e punk para produzir uma massa sonora dotada de  identidade.
A voz pode ser afinada e suntuosa como também pode ser direta e visceral. A comparação com Kate Bush ou Sinéad O´Connor vem naturalmente, mas não é mera cópia desprovida de conteúdo. Seja acompanhada por bateria eletrônica, teclado ou uma banda – ainda assim, sabe-se tratar de Florence and the Machine.

Thurston Moore – Demolished Thoughts

O terceiro disco solo de Thurston Moore chega no momento de transição na vida do guitarrista do Sonic Youth que sai de um casamento e parceria de 30 anos com a baixista Kim Gordon.
Demolished Thoughts é resultado da colaboração de Moore com o multi-instrumentista e produtor Beck Jansen, daí a sonoridade acústica e multifacetada que permeia o álbum. A banda composta por Mary Lattimore (da harpa), Lubielski Sâmara (violino), Inscore Bram (baixo) e Joey Waronker (percussão) formam a base para as incursões dos instrumentos adicionados por Beck. Demolished Thoughts seria uma antítese a discografia do SY, mas o conjunto revela força e sentido mantendo relação de proximidade com o caos sonoro da ex-banda de Moore. Enquanto o Sonic Youth é melodia alinhavada com barulho e distorção, Demolished é calma e inquietação; deve ser apreciado como um todo num tempo em que os i-Pods fracionam e diluem os discos.

Danger MouseRome

O compositor Daniele Luppi e o produtor Danger Mouse (Gorillaz e Gnarls Barkley),  aficionados pelas trilhas sonoras de filmes italianos das décadas de 1960 e 1970,  principalmente western spaguetti, se uniram em torno de Rome – projeto que necessitou de mais de seis anos de maturação.
Para que o disco soasse autêntico utilizaram o estúdio Roma Forum fundado por Ennio Morricone, além de alguns músicos que participaram das gravações desse ícone das soundtracks. Na produção dispensaram os equipamentos modernos e computadores para que a sonoridade ficasse bem próxima das trilhas originais.
O projeto, iniciado em 2004, contou com participações de Jack White (The White Stripes, The Raconteurs, The Dead Weather) e Norah Jones – que gravaram os vocais em brechas de suas agendas durante o longo período de gestação do álbum.
Rome atingiu o intento reproduzindo, quase com perfeição, o clima árido e introspectivo das trilhas sonoras criadas por Morricone.

Pedro Luís – Tempo de Menino

Pedro Luís conhecido pelos trabalhos percussivos junto ao Pedro Luís e a Parede e o projeto Monobloco em que os ritmos como samba e swing são potencializados para promover a salada sonora da MPB. Com o lançamento de Tempo de Menino, ele despressuriza e dilui o groove em favor de temas, digamos, mais leves em termos rítmicos.
Tempo de Menino traz os elementos dos grupos mencionados, porém mais próximos da MPB tradicional – adicionando toada e fado a mistura. O trabalho tem participações dos músicos da Parede, Milton Nascimento, Roberta Sá, Erasmo Carlos e Carminho. A identidade do disco é mérito do duo MiniStereo formado pelo produtor Rodrigo Campello e o guitarrista Jr. Tostoi.

Wynton Marsalis & Eric Clapton – Play The Blues – Live From Jazz At Lincoln Center

A combinação do blues de Eric Clapton com o jazz de Wynton Marsalis proporciona uma abordagem renovada de canções originais. A escolha do repertório ficou por conta de Clapton enquanto Marsalis providenciou os arranjos das canções com o acréscimo luxuoso da Orquestra do Lincoln Center. Os gêneros que tem raízes na música negra do final do século 19 provam que a música popular de qualidade pode ser reinventada e perpetuada, principalmente, se interpretadas por quem conhece do riscado.

Adele – 21

Ela teve ótima repercussão entre público e crítica com o seu début álbum.  Em 2011, Adele voltou e conseguiu de novo. As baladas agridoces da juventude amadureceram em 21. A jovem inglesa capitaneada pelo produtor Rick Rubin evoluiu tecnicamente e as canções receberam a inspiração da dor causada pelo rompimento amoroso após a turnê do álbum 19. Ela não precisa apelar para sensualidade ou escândalos para atrair a atenção e brilhar. Adele, além de intérprete, também é co-autora de 10 das 11 canções.
Tanto o disco 21 como os singles Rolling in the Deep e Someone Like You frequentaram as listas de mais vendidos durante o ano.

Charles Bradley – No Time for Dreaming

Charles Bradley se criou nas ruas do Brooklin e se interessou pela música ao assistir James Brown, no Apollo, em companhia da irmã, em 1962. Na juventude trabalhou como cozinheiro e depois de trabalhar em vários restaurantes pelo país – percebeu que era hora de voltar para casa e para o sonho. A experiência vagando pelos EUA, a vida dificil e a perda do irmão assassinado transformaram o talento em autêntico soul retratado nas músicas de No Time for Dreaming. Charles Bradley, os 51 anos, amadureceu e a dor expressa em pérolas como The World (Is Going Up in Flames) e No Time For Dreamin’ são amostras disso.

Tom Waits – Bad as Me

Tom Waits é um artista na acepção da palavra: instrumentista, cantor, compositor, poeta e ator capaz de circular pelo blues, jazz, folk, pop, música alternativa e ópera com desenvoltura.
Muitas das facetas de sua discografia estão presentes em Bad as Me. Ele passeia pela  visceralidade e pela vanguarda sem perder a aura que aglutinou fãs das mais diversas vertentes durante a longa carreira. Tom Waits é como o Bourbon: quanto mais tempo de envelhecimento mais interessante o “blended”.