Archive for the 'Filme clássico' Category

25
abr
11

DVD: Aurora – uma canção de dois humanos, W.F. Murnau (1927)

Charles Antunes Leite

FILME CLÁSSICO

O cineasta alemão W.F. Murnau teve uma carreira marcada por grandes filmes numa época em que o cinema engatinhava e os diretores não tinham tecnologia à disposição, mas possuíam imaginação de sobra para contar histórias. Murnau é constantemente associado a Nosferatu (1922), obra-prima do expressionismo alemão.

Na trama a mulher da cidade (Margaret Livingston), em férias no campo, conhece o fazendeiro (George O’Brien), com quem passa a manter um relacionamento amoroso. O romance afeta a estabilidade afetiva e financeira do casal.  A forasteira propõe que durante um passeio de barco ele forje o afogamento “acidental” da esposa (Janet Gaynor) e depois venda a fazenda para viver com ela na metrópole.

O marido é assediado pela culpa, o que pode ser percebido, já na primeira vez em que sai às escondidas para um encontro fortuito com a amante. No momento em que está para concluir o plano nefasto, se arrepende, e corroído pelo remorso tenta se redimir junto à esposa, que amedontrada foge e é seguida por ele até a cidade.

Os dois entram numa igreja durante um casamento e ele se lembra do dia em que prometeu amar e respeitar aquela mulher ao seu lado. O pecador arrependido, aos olhos de Deus, pede perdão e sente que pode recomeçar.

Em meio ao trânsito caótico e sem semáforos em que carros, carruagens e bondes dividem o espaço com os pedestres na metrópole, eles caminham pela praça.  Alheios a tudo em volta, como se estivessem numa campina, o casal se beija apaixonadamente interrompendo o tráfego – ficam cercados por veículos.  A cena se repetiria  com um marinheiro e uma enfermeira em Times Square, em comemoração ao término da Segunda Guerra Mundial, dezoito anos depois. O clima de lua de mel poderia salvar o casamento ao voltarem para casa?

Aurora (1927), o primeiro longa de Murnau produzido em Hollywood, e até então a produção mais cara da Fox, recebeu três estatuetas da Academia de Cinema. A premiação ocorreu em 1929, no entanto, o troféu receberia o nome de Oscar somente em 1931. O filme levou o prêmio de melhor atriz Janet Gaynor, conhecida por Nasce Uma Estrela;  melhor Fotografia e Qualidade Artística.

A fotografia em Preto e Branco realça a luz e a sombra para representar as diferenças entre as paisagens bucólicas e ritmo frenético da cidade. O olhar dos personagens seja de paixão, fúria ou ternura por si informa e transmite tudo o que o espectador precisa saber para entender o que se passa na tela. O impacto visual de Aurora faz com que a história seja contada sem a necessidade de dizer uma única palavra.

Em Aurora, o som ambiente foi sincronizado com filme.  A trilha sonora original é empregada pela primeira vez. O score de Hugo Riesenfeld conduz os momentos de romance, luxúria, tensão, dor, devaneio e reconciliação.

Murnau faz o uso de diversos recursos técnicos trazidos do expressionismo alemão. Consta que o diretor utilizou crianças e anões para dar profundidade de campo. Ele rodou um plano-sequência a caminhada da mulher da cidade, que foi dividida em várias cenas na montagem final; a sobreposição de imagens do campo e da cidade, entre outros recursos.

O diretor morreu em acidente automobilístico em 1931, porém Aurora se firmou como obra atemporal e inovadora no final do século 20, sendo eleito pela elite dos cineastas e críticos como um dos filmes mais importantes de todos os tempos ao lado de obras como O Encouraçado Potemkin de  Sergei Eisenstein e Cidadão Kane  de Orson Welles.

A aurora é mais brilhante e majestosa depois de uma noite de tormenta. Aurora é  um poema visual e quase cem anos depois, cada frame do filme é capaz de representar mais que mil palavras…

DVD: Aurora – Uma canção de dois humanos, EUA, 1927
Título original: Sunrise: A Song of Two Humans
Direção: F.W. Murnau
Duração: 90 min
Distribuidora: Versátil

23
jul
09

DVD: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, Jean-Pierre Jeunet (2001)

Charles Antunes Leite

Jeunet conta a história da jovem Amélie Poulain vivida pela atriz Audrey Tautou (Coisas Belas e Sujas, Eterno Amor), desde o momento de sua concepção de forma científica-satírica; a infância solitária imposta pelos pais distantes e incapazes de demonstrações afetivas.

Os pais de Amélie achavam que ela não poderia conviver com outras crianças devido a um coração fraco, e por isso, recebeu educação de sua mãe em casa, afastada do convívio com outras crianças. A jovem Amélie cresceu nesse ambiente frio e desprovido de conversa e carinho dos pais, o que fez dela uma mulher sem experiência de vida e visão equivocada do mundo.

Amélie foi sempre muito curiosa e prestativa, uma “Poliana”, vivendo de prazeres frugais, dividindo um pequeno apartamento com um gato, isso até o instante em que resolve que vai viver para fazer a vida das pessoas melhores: desde servir como cupido para uma colega de trabalho até fazer chegar a um senhor uma velha caixa de recordações infantis depois de mais de 40 anos.

A bondade de Amélie Poulain pelos desconhecidos faz contraponto com o “sadismo sapeca” que ela impõe ao pai que sempre se manteve distante. Ela necessita do amor paterno e como não consegue, se apropria de algo que tenha valor afetivo para ele.

Provavelmente, Amélie adulta não consegue se empolgar com relacionamentos amorosos, devido às pendências afetivas em relação ao pai. Ela considera o ato sexual desprovido de graça. Um dia, ela vê um rapaz que imagina ser a sua alma gêmea, mesmo sendo um contato de olhos fugaz e sem palavra alguma.

Amélie fica com um álbum de fotos que caiu da moto do rapaz. Agora sua rotina mudou – divide o tempo entre seu trabalho e uma maneira de se encontrar com aquele jovem que seria o companheiro ideal para sua vida.

O universo onírico de Amélie é povoado por seres e ações tiradas dos enredos dos filmes que assiste no cinema às sextas-feiras, que se confundem com seus vizinhos de personalidades “felinianas”.

Jeunet fez Delicatessen, filme de humor mais denso e contundente. Em O Fabuloso Destino de Amélie Poulain consegue despertar o sorisso do público que ao assisti-lo pode acreditar que o mundo é bacana, não tem guerras, crimes, maldade, doenças e todos podem ser felizes.

A história contada com leveza, nonsense, situações absurdas, personagens esquisitos, a fotografia em vermelho e verde de Bruno Delbonnel e a trilha sonora de Yann Tiersen fazem de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, mais um filme fabuloso da carreira de Jeunet.

DVD: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, França, 2001
Título Original: Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain
Direção: Jean-Pierre Jeunet
Duração: 120 min
Distribuidora: Miramax – Imagem Filmes

20
jul
09

DVD: Cenas de um Casamento, Ingmar Bergman (1973)

Charles Antunes Leite

Marianne e Johan mantêm um casamento aparentemente feliz durante 10 anos, e são por isso, referência para outros casais. Como manter um relacionamento por tanto tempo e sem brigas?

Só que numa determinada noite Johan chega em casa e comunica que tem uma amante e partirá com ela para Paris, e decide terminar o casamento.

Durante o processo de separação e divórcio, o casal se encontra várias vezes,  em cada encontro vem a tona frustrações, queixas e o desconforto de uma relação que na verdade não era satisfatória para nenhuma das partes.

A visão de Bergman sobre o casamento, tratado com dramaticidade peculiar do diretor sueco. É possível que duas pessoas quem vivem sob o mesmo teto, com características distintas, consigam perpetuar uma relação amorosa?

Magníficas interpretações de Liv Ullmann e Erland Josephson, atores conhecidos por dar vida aos personagens do universo bergmaniano. Cenas de um Casamento é apresentado em versão integral concebida para TV, com 5 horas de duração de uma das obras-primas de Bergman.

DVD: Cenas de um Casamento, Suécia, 1973
Título Original: Scener Ur Ett Äktenskap
Direção: Ingmar Bergman
Duração: 299 min
Distribuidora: Versátil Home Vídeo