Imagine a euforia dos fãs brasileiros, em particular esse escriba, quando ouviu pelo rádio numa longínqua tarde de domingo do ano de 1990 que The Sisters of Mercy tocariam no Brasil. A nota foi dada pelo DJ e locutor José Roberto Mahr no seu programa Novas Tendências (popular NT) na 89 FM. A banda incluíra o nosso país na turnê de lançamento do terceiro álbum (até hoje o último disco) intitulado Vision Thing que chegaria às lojas no mês de novembro daquele ano. As datas confirmadas: Discoteca Zoom em Brasília (25/10), Projeto SP em São Paulo (26 e 27/10), Americana-SP (28/10) e Canecão no Rio de Janeiro (29 e 30/10).
Naquela época bandas em atividade ou no auge dificilmente incluíam o Brasil nas turnês.Talvez fosse a última oportunidade para assistir a um show deles. Para tristeza dos fãs, após desavenças com Andrew Eldritch, a baixista Patricia Morrison afastada da banda não viria, e sim, o recém-integrado Tony James (Sigue Sigue Sputnik).
No meu bairro, quem curtia aquele tipo de música era eu, um camarada e mais dois outros que viria a conhecer depois. Não lembro o porquê, mas acabei indo sozinho (afinal faz tanto tempo). A única certeza que tenho: a música de abertura foi First And Last And Always.
Fui de Metrô. A cada parada figuras características embarcavam e não deixavam dúvidas que iriam para o mesmo lugar que eu. Ao desembarcarmos na estação Marechal Deodoro fomos a pé para o Projeto SP situado na Rua Sérgio Meira, na Barra Funda (apenas algumas quadras do metrô). Quem visse aquele grupo de gente esquisita com suas roupas pretas, cabelos espetados e demais paramentos – poderia se assustar. Ao passarmos por uns tiozinhos, eles fizeram o sinal da cruz como se fossemos vampiros ou coisa pior… Hoje em dia tais roupas e o visual se tornaram corriqueiros e até foram incorporados ao mercado de moda.
Fui sozinho, mas encontrei vários conhecidos do Espaço Retrô (porão da região central da cidade de São Paulo frequentado por fãs de bandas como Sisters of Mercy, Bauhaus, Cure entre outras) que também consideravam imperdível a apresentação dos Sisters em Sampa.
O show, apesar da infeliz escolha do insípido Nenhum de Nós como banda de abertura – quando entramos eles estavam saindo do palco ((nenhum de nós assistiu). A apresentação foi arrebatadora: a voz gutural de Andrew Eldritch apoiada por dois guitarristas Tim Bricheno (All About Eve) e Andreas Bruhn (amigo de Eldricht), Tony James (Sigue Sigue Sputnik), o tecladista Dan Donovan (Big Audio Dynamite) e a lendária Doktor Avalanche. Como o ser humano nunca se dá por satisfeito, eu senti falta de No Time To Cry e Walk Away. Abaixo relação das músicas do set list original tocadas dia 27/10 segundo a cópia distribuída aos jornalistas:
First And Last And Always
Lucretia My Reflection
Body And Soul
Detonation Boulevard
When You Don`t See Me
Marian
Body Electric ( relacionada mas não tocada)
Valentine
Doctor Jeep
Dominion/Mother Russia
Alice
Gimme Shelter
Temple Of Love
Vision Thing (BIS)
This Corrosion
Jolene (BIS)
1969
O show do Projeto SP (26/10) saiu num CD “bootleg” produzido pelo fan club brasileiro dos Sisters of Mercy com as quatro últimas músicas substituídas pelas apresentadas no show do dia seguinte (27/10). No YouTube está disponível uma das apresentações gravada no Canecão (Rio de Janeiro) com imagem e som sofríveis.
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