Por Charles Antunes Leite
Dois programas de TV me motivaram a escrever o post a seguir: o documentário “Olho Nu” e o show de Alice Cooper Live at Avo Sessions.
Olho Nu (2012), do diretor Joel Pizzini, narrado em primeira pessoa pelo cantor Ney Matogrosso revela um pouco das muitas faces do artista; são fragmentos antes e depois dos Secos & Molhados. A máscara icônica com a qual se apresentava foi o que catapultou para o sucesso nacional.
O show de Alice Cooper Live at Avo Sessions de 2012: o cara mantém o pique como há décadas vem fazendo. Os brasileiros puderam conferir, em 1974, na apresentação no Anhembi, em São Paulo. A performance foi marcante pela pintura do rosto, suas caracterizações; o show em si é uma grande espetáculo de terror B. Alice Cooper foi influência para bandas como Kiss (EUA) e Mercyful Fate (Dinamarca). O vocalista King Diamond do Mercyful Fate declarou ter se inspirado em Alice Cooper para desenvolver a pintura facial (corpse paint) característica de suas apresentações que aliada ao estilo de sua música inspirou a segunda geração Black Metal norueguesa na década de 1990.
A prática do uso de máscaras e maquiagem está longe de ser novidade. O freak Arthur Brown (1968) e os italianos do grupo Osanna (1971) já se apresentava maquiados há mais de 40 anos. Os artistas do “glam” como New York Dolls e David Bowie; Os “góticos” como Siouxsie, Cure, Alien Sex Fiend.
Em 1977, Glenn Danzig e Jerry Only fundaram o Misfits cujos integrantes pintavam e ainda pintam os rostos com temática de caveiras (o logo da banda é uma pintura de caveira em branco) associadas aos topetes criavam impacto para a sonoridade “horror punk “.
Dee Snider, vocalista do Twisted Sister, pode ser considerado um dos sujeitos mais feios do rock: Cabelos loiros compridos e crespos e rosto maquiado – se parecia com uma bruxa velha.
O contrário pode ser dito do “glam metal” Poison, no início da carreira, se apresentava com maquiagem e cabelos armados semelhantes às strippers das boates de L.A.
Os nojentos do Gwar! trazem semelhanças com os perseguidores de Mel Gibson em Mad Max II (1981) elevados à décima potência em brutalidade e bizarrice.
No Brasil pelo menos três grupos fizeram uso de máscaras/maquiagens em suas performances: os integrantes do Made in Brazil (em 1969) contam que já utilizaram tal artifício cênico, muito antes dos Secos & Molhados que passaram a se pintar em 1973. Os Secos misturavam poesia, rock, folclore e MPB ficaram conhecidos pelos rostos pintados e androginia dos seus integrantes. Quem veio primeiro o ovo ou a galinha? Quem se pintou primeiro: Kiss ou Secos & Molhados?
Por muitos anos os brasileiros aceitaram que o Kiss os havia copiado – tese derrubada pelo jornalista Emilio Pacheco após análises cuidadosas das carreiras dos dois grupos. Parafraseando Pacheco: “Kiss e Secos começaram shows e discos mais ou menos na mesma época, mas com diferença de meses, porém o Kiss já vinha se apresentando antes da formação dos Secos. Numa época em que a informação era difícil e demorada, as chances do Kiss ter acesso à imagem de Ney Matogrosso e Cia. eram irrisórias”.
No final de 1992, o “crossover” rap metal harcore do Pavilhão 9 do vocalista Rhossi se apresentava com máscara para manter o anonimato e evitar represálias da polícia devido ao discurso de suas canções.
Na virada do século, o coletivo de “nu metal” Slipknot tem como diferencial em suas apresentações energéticas e caóticas: nove (!) integrantes usando macacões numerados e máscaras intimidadoras. A questão dos macacões denotam a postura anti-capitalista e uma crítica ao sistema que os considera um produto no mercado musical. Ao longo da carreira a banda procurou manter a individualidade e refletir a personalidade de cada integrante na concepção das máscaras. Enquanto o Kiss mantém o padrão das personas dos músicos há décadas, o Slipknot desenvolve novas temáticas a cada novo álbum por meio da indumentária.
Os integrantes do grupo Ghost B.C., surgido na primeira década do século 21, se apresentam caracterizados como monges e sacerdotes. As máscaras assustadoras aliadas às letras que invocam a missa negra revisitam, mesmo que de forma diluída o “black metal” dos 80 e 90, andamentos lentos, vocal e produção limpa – o visual causa mais impacto que a música propriamente.
Hoje, ainda mais do que antes, os artistas precisam se esmerar para proporcionar shows memoráveis – não é necessário ter luzes e telões como Pink Floyd ou figurinos e bailarinos como Madonna. Produções modestas em que artistas tragam performances musicais condizentes aliados ao “mise em scène” como o próprio Alice Cooper valorizam os shows.
Ele se apresenta acompanhado por uma banda jovem e competente com três guitarristas (a guitarrista solo é uma bela garota) para embalar o circo de horror que apresenta há quatro décadas. Imagine pagar uma grana pelo ingresso, pegar trânsito, chegar a um local lotado de gente suando, permanecer de de pé (no mínimo) duas horas, bebida quente e cara – os artistas precisam caprichar para que o fã possa voltar para casa satisfeito por ter participado de um show de rock e querer repetir a experiência.
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